Fissão Nuclear: Tudo o Que Você Precisa Saber!

  Fissão Nuclear: Tudo o Que Você Precisa Saber!

fissão nuclear

Imagem de Markus Distelrath por Pixabay

 Introdução

        A fissão nuclear é um dos processos mais importantes e fascinantes no campo da física nuclear e tem um impacto significativo no mundo moderno. 

        Desde a produção de energia até suas aplicações na medicina e na indústria, entender a fissão nuclear é essencial para compreender a ciência e a tecnologia de hoje. Este post irá guiá-lo através dos principais conceitos, história, funcionamento, aplicações, vantagens, desvantagens, segurança e futuro da fissão nuclear.

 O Que é Fissão Nuclear?

        A fissão nuclear é a divisão de um núcleo atômico pesado em dois ou mais núcleos menores, acompanhada pela liberação de uma grande quantidade de energia. Este processo ocorre quando um núcleo pesado, como o do urânio-235 ou do plutônio-239, absorve um nêutron e se torna instável. 

        A instabilidade faz com que o núcleo se divida em dois núcleos menores, liberando nêutrons adicionais e uma grande quantidade de energia na forma de calor e radiação.

Fissão do núcleo

Imagem da fissão nuclear

        A energia liberada durante a fissão nuclear é da ordem de milhões de vezes maior que a energia liberada em reações químicas comuns, como a combustão.

        A fissão nuclear pode ocorrer de forma espontânea em certos isótopos radioativos, mas é mais comumente induzida em reatores nucleares ou em bombas atômicas. Em reatores nucleares, o processo de fissão é controlado para liberar energia de forma contínua, sendo utilizada para a geração de eletricidade. 

        Os nêutrons liberados na fissão podem iniciar novas fissões em outros núcleos, criando uma reação em cadeia. Esta reação em cadeia precisa ser cuidadosamente controlada para evitar que se torne explosiva.

        Os produtos de fissão são geralmente radioativos e podem ter impactos ambientais e de saúde significativos se não forem gerenciados adequadamente. A gestão dos resíduos nucleares e a segurança dos reatores são, portanto, aspectos cruciais da tecnologia de fissão nuclear.

História da Fissão Nuclear

        A história da fissão nuclear começa no início do século XX, quando a estrutura do átomo começou a ser compreendida de forma mais completa. Em 1934, o físico italiano Enrico Fermi e sua equipe realizaram experimentos bombardeando urânio com nêutrons, o que levou à descoberta de elementos mais leves. 

        No entanto, foi apenas em 1938 que os químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann, juntamente com a física Lise Meitner e seu sobrinho Otto Robert Frisch, identificaram corretamente o processo de fissão nuclear. 

        Eles descobriram que o bombardeio de urânio com nêutrons resultava na divisão do núcleo em dois fragmentos mais leves, liberando uma grande quantidade de energia.

        Esta descoberta foi crucial para o desenvolvimento da física nuclear e teve um impacto significativo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1939, Albert Einstein e Leó Szilárd enviaram uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, alertando sobre o potencial de armas nucleares baseadas na fissão. 

        Isso levou ao início do Projeto Manhattan, um esforço de pesquisa e desenvolvimento que culminou na construção das primeiras bombas atômicas.

        Em 1942, a primeira reação nuclear controlada foi realizada por Enrico Fermi e sua equipe na Universidade de Chicago, marcando o início da era da energia nuclear. 

        Após a guerra, a tecnologia nuclear passou a ser explorada para fins pacíficos, como a geração de eletricidade em usinas nucleares. Em 1951, a primeira usina nuclear experimental, EBR-I, começou a operar em Idaho, Estados Unidos, demonstrando a viabilidade da energia nuclear para geração elétrica.

        Desde então, a tecnologia de fissão nuclear se desenvolveu significativamente, com avanços na segurança dos reatores, na gestão de resíduos nucleares e na eficiência da produção de energia.

        No entanto, acidentes como os de Chernobyl em 1986 e Fukushima em 2011 destacaram os riscos associados à fissão nuclear, levando a um aumento das medidas de segurança e a uma reavaliação do papel da energia nuclear na matriz energética global.


Imagem de Stefan-Xp por commons.wikimedia.org     


 Aplicações da Fissão Nuclear

Energia Nuclear

        A geração de eletricidade com energia nuclear é uma das aplicações mais importantes e conhecidas da fissão nuclear. Este processo ocorre em usinas nucleares, onde reatores nucleares são utilizados para iniciar e controlar reações em cadeia de fissão de átomos de urânio ou plutônio. Essas reações liberam uma enorme quantidade de calor. 

        Nas usinas nucleares, o calor gerado pela fissão nuclear é usado para aquecer água até que ela se transforme em vapor. Este vapor, sob alta pressão, é direcionado para turbinas que, ao girar, acionam geradores elétricos. Dessa forma, a energia térmica é convertida em energia mecânica e, em seguida, em energia elétrica.

Esquema de Usina Nuclear

Imagem Wikimedia Commons

        Os reatores nucleares possuem várias camadas de segurança para garantir o controle da reação em cadeia e prevenir acidentes. Esses sistemas incluem barreiras físicas, controles automatizados e procedimentos de emergência para lidar com qualquer situação imprevista.

        Uma das principais vantagens da geração de eletricidade por meio da energia nuclear é a alta densidade energética do combustível nuclear. Pequenas quantidades de urânio ou plutônio podem produzir grandes quantidades de energia elétrica. 

        Além disso, as usinas nucleares operam de maneira contínua, proporcionando uma fonte estável e confiável de eletricidade, ao contrário de algumas fontes renováveis que são intermitentes, como a solar e a eólica.

        Outro ponto positivo é que a geração de eletricidade nuclear não emite dióxido de carbono durante a operação, o que a torna uma opção atraente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas.

        Contudo, a energia nuclear também enfrenta desafios significativos. A construção de usinas nucleares requer altos investimentos iniciais e longos períodos de construção. 

        Além disso, o gerenciamento de resíduos radioativos e a segurança das instalações são questões críticas que necessitam de soluções eficazes. 

        A história da energia nuclear tem exemplos de acidentes graves, como os de Chernobyl e Fukushima, que ressaltam a importância de rigorosos padrões de segurança.

        Desta forma, a geração de eletricidade com energia nuclear oferece uma solução potente e de baixa emissão de carbono para a produção de eletricidade, mas demanda uma gestão cuidadosa dos riscos associados e um compromisso contínuo com a inovação em segurança e tecnologias de resíduos.

Medicina

        Na medicina, a fissão nuclear é usada para produzir radioisótopos que são essenciais para diagnósticos e tratamentos. Por exemplo, o tecnécio-99m, um produto da fissão nuclear, é amplamente usado em exames de imagem. 

        O tecnécio-99m é um radioisótopo muito útil devido à sua meia-vida curta e à capacidade de emitir radiação gama, que pode ser detectada por equipamentos de imagem médica, como as câmeras gama.          

         Este radioisótopo é utilizado em uma variedade de exames de medicina nuclear, incluindo cintilografias, que ajudam na avaliação do funcionamento de órgãos como o coração, os pulmões e a glândula tireoide.

        Além do tecnécio-99m, outros radioisótopos produzidos por fissão nuclear, como o iodo-131 e o lutécio-177, são usados para tratamentos terapêuticos. 

        O iodo-131, por exemplo, é empregado no tratamento de doenças da tireoide, incluindo o câncer de tireoide, devido à sua capacidade de destruir tecido tireoidiano anormal. 

        Já o lutécio-177 é utilizado no tratamento de certos tipos de câncer, como o câncer de próstata e os tumores neuroendócrinos, oferecendo uma alternativa eficaz e direcionada à quimioterapia tradicional.

        A radioterapia, uma forma comum de tratamento de câncer, também se beneficia da fissão nuclear. Fontes de radiação, como o cobalto-60, são usadas para irradiar e destruir células cancerígenas, enquanto minimizam danos aos tecidos saudáveis ao redor. 

        A precisão dos tratamentos radioterápicos tem melhorado significativamente com o avanço da tecnologia, proporcionando melhores resultados para os pacientes.

        Além dos diagnósticos e tratamentos diretos, a fissão nuclear contribui para a esterilização de equipamentos médicos. A radiação é usada para esterilizar seringas, implantes e outros dispositivos médicos, garantindo que estejam livres de microorganismos antes de serem utilizados em procedimentos médicos.

        Em resumo, a fissão nuclear desempenha um papel vital na medicina moderna, fornecendo radioisótopos essenciais para uma ampla gama de procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Esta tecnologia melhora a precisão dos diagnósticos, a eficácia dos tratamentos e a segurança dos procedimentos médicos, beneficiando milhões de pacientes em todo o mundo.

 Indústria

        Na indústria, a fissão nuclear desempenha um papel importante em vários processos, especialmente na esterilização de equipamentos médicos e na inspeção de materiais através da radiografia industrial.

Esterilização de Equipamentos Médicos

        A fissão nuclear é usada para produzir radioisótopos que emitem radiação ionizante, a qual é empregada na esterilização de equipamentos médicos. Isótopos como o cobalto-60 são produzidos em reatores nucleares e utilizados em processos de irradiação para eliminar microorganismos e patógenos.            Este método de esterilização é altamente eficaz, pois a radiação penetra profundamente nos materiais, garantindo que todos os microorganismos sejam destruídos, independentemente da complexidade do equipamento. 

        É uma técnica particularmente útil para esterilizar seringas, implantes, cateteres e outros dispositivos médicos sensíveis ao calor ou a produtos químicos.

Radiografia Industrial

        Outro uso significativo da fissão nuclear na indústria é a radiografia industrial, que utiliza radiação para inspeção de materiais e estruturas. A radiografia industrial é essencial para garantir a integridade e a segurança de componentes críticos em setores como o aeroespacial, a construção civil e a petroquímica. 

        Radioisótopos como o irídio-192 e o selênio-75, que podem ser produzidos por processos nucleares, são usados como fontes de radiação gama. 

        Esta radiação atravessa os materiais e cria imagens detalhadas em filmes ou detectores digitais, revelando falhas internas, como fissuras, porosidades e inclusões, que não são visíveis a olho nu. Este método não destrutivo de inspeção permite a detecção precoce de defeitos, prevenindo acidentes e falhas catastróficas.

Vantagens e Desafios

        A utilização de fissão nuclear na indústria oferece várias vantagens. A esterilização por radiação é rápida, eficiente e pode ser aplicada a uma ampla gama de materiais sem danificá-los.

         A radiografia industrial proporciona uma inspeção precisa e confiável de componentes, garantindo a segurança e a qualidade dos produtos.

        No entanto, existem desafios associados ao uso de radiação na indústria. A manipulação e o descarte de materiais radioativos exigem rigorosos controles de segurança para proteger os trabalhadores e o meio ambiente. Além disso, a instalação e manutenção de equipamentos de radiação podem ser caras e requerem pessoal especializado.

Segurança na Fissão Nuclear

 Medidas de Segurança

        As usinas nucleares são projetadas com múltiplas camadas de segurança para prevenir acidentes. Isso inclui sistemas de resfriamento redundantes, contenção física dos reatores e procedimentos rigorosos de operação e manutenção.

 Acidentes Notáveis

        Os acidentes de Chernobyl em 1986 e Fukushima em 2011 destacaram os riscos associados à energia nuclear e tiveram um impacto profundo na percepção pública e nas práticas de segurança do setor. 

        O desastre de Chernobyl foi causado por uma combinação de falhas de design do reator e erros humanos durante um teste de segurança. Este acidente resultou na liberação massiva de materiais radioativos no meio ambiente, causando mortes imediatas e a longo prazo devido à exposição à radiação.

        Em Fukushima, um terremoto seguido de um tsunami levou à falha dos sistemas de resfriamento, resultando em múltiplas fusões de reatores. Este incidente destacou a vulnerabilidade das usinas nucleares a desastres naturais e levou a uma reavaliação global das medidas de segurança.

Futuro da Fissão Nuclear

Tecnologias Avançadas

        Novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para tornar a fissão nuclear mais segura e eficiente. Entre as inovações mais promissoras estão os reatores de nova geração, como os reatores de leito de pedras e os reatores de sal fundido.

        Reatores de Leito de Pedras: Estes reatores utilizam combustíveis encapsulados em esferas de grafite, que são altamente resistentes a temperaturas extremas e danos físicos. 

        A característica mais destacada dos reatores de leito de pedras é sua segurança intrínseca. Eles são projetados para evitar a fusão do núcleo sem a necessidade de intervenções ativas, pois o próprio design impede o superaquecimento. 

        Além disso, esses reatores operam a temperaturas muito mais altas do que os reatores tradicionais, o que aumenta a eficiência térmica e a capacidade de geração de eletricidade.

        Reatores de Sal Fundido: Esses reatores utilizam sais líquidos como combustível e como refrigerante, proporcionando várias vantagens em termos de segurança e eficiência. 

        Os reatores de sal fundido são projetados para operar em baixas pressões, reduzindo o risco de explosões. Além disso, eles podem funcionar em ciclos de combustível fechados, onde os resíduos radioativos podem ser reciclados e reutilizados, diminuindo significativamente a quantidade de resíduos de longo prazo. 

        Outra vantagem importante é a capacidade de queimar resíduos nucleares existentes, contribuindo para a redução do passivo ambiental das usinas nucleares.

Potencial de Inovação

        Além desses reatores de nova geração, outras tecnologias emergentes, como os reatores modulares pequenos (SMRs), estão sendo desenvolvidas para oferecer flexibilidade, menores custos de construção e maior segurança. 

        Os SMRs são projetados para serem fabricados em fábricas e montados no local, o que pode acelerar a implementação e reduzir os custos associados à construção de grandes usinas nucleares.

Sustentabilidade e Segurança

        A incorporação de novas tecnologias de reatores promete não apenas melhorar a segurança, mas também abordar questões de sustentabilidade. 

        A redução de resíduos radioativos e o uso mais eficiente dos recursos nucleares são fundamentais para garantir que a fissão nuclear possa desempenhar um papel significativo no futuro mix energético global, contribuindo para a redução das emissões de carbono e a mitigação das mudanças climáticas.

 Energia de Fusão

        Embora a fusão nuclear ainda esteja em fase experimental, ela oferece a promessa de uma fonte de energia ainda mais limpa e abundante do que a fissão. 

        A fusão, que envolve a união de núcleos leves para formar núcleos mais pesados, pode um dia complementar ou até substituir a fissão nuclear como principal fonte de energia.

 Conclusão

        A fissão nuclear é uma tecnologia poderosa que desempenha um papel vital em nossa sociedade moderna. Desde a produção de eletricidade até aplicações médicas e industriais, os benefícios são numerosos. 

        No entanto, também existem desafios e riscos associados que precisam ser gerenciados com cuidado. Com o avanço da tecnologia e melhorias contínuas na segurança, a fissão nuclear continuará a ser uma importante fonte de energia no futuro. 


**Perguntas para Reflexão**:

1. Quais são as principais vantagens da energia nuclear em comparação com outras fontes de energia?

2. Como os resíduos radioativos devem ser gerenciados para minimizar os riscos ambientais?

3. Que lições aprendemos com os acidentes nucleares do passado e como essas lições podem ser aplicadas para melhorar a segurança futura?

Autor : Nilson Andrade 

Professor Mestre em Ensino de Física e graduado em Licenciatura em Física.

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